quinta-feira, 21 de setembro de 2006

O novo Procurador Geral da República

Bem sei que este post peca um pouco por tardio mas mea culpa, mea massima culpa. Entretanto, e após proposta do Primeiro Ministro, o Presidente da República decidiu nomear o Juiz Conselheiro Pinto Monteiro como o próximo Procurador Geral da República, em substituição do anterior, o Dr. Souto Moura. Porém, e apesar de um comunicado sóbrio, directo e incisivo por parte da Presidência da República, o Governo, no seu comunicado publicado no sítio oficial decidiu ser o novo "padrinho" do Procurador Geral, e baptizou-o como Juiz Conselheiro Fernando Pinto "Ribeiro". De qualquer modo, importa que o comunicado seja lido para que nos possamos aperceber devidamente do erro: "O Presidente da República anunciou que vai nomear Procurador Geral da República o juiz conselheiro Fernando Pinto Ribeiro, na sequência da proposta que lhe foi apresentada pelo Primeiro-Ministro no dia 19 de Setembro. (...)". Será isto um sinal de que o Governo será o "padrinho" do Procurador e este será um dos seus mais ferverosos afilhados e um verdadeiro "yes-man"? Não creio, não posso e nem devo acreditar nessa hipótese totalmente descabida. Seria uma verdadeira atitude subversiva do nosso Governo e além disso, seria a total sujeição do poder judicial ao poder político. Enfim, um pesadelo que nem sequer quero ter, nem desejo aos meus piores inimigos, embora alguns deles pudessem sofrer alguns castigos desses... Entretanto, e com a nomeação do Conselheiro Pinto Monteiro como Procurador Geral, verificou-se o show off habitual de todas as forças políticas representadas na Assembleia da República, assim como de todas as associações representativas de elementos que desempenham funções no sistema judicial em Portugal. Todas elas, e muito elegantemente, desejaram que o próximo Procurador desempenhe as suas funções de forma correcta, isenta, com eficácia, e que defenda a independência do poder judicial, tendo igualmente afirmado que se tratava da pessoa certa para o cargo. Ora, se começassem já a dizer mal dele é que eu estranhava, mas neste caso pela positiva. Pelo menos deixavam de fazer figuras tristes, ridículas e patéticas, e teriam comportamente honestos, frontais e coerentes com as ideias que defendem e tentam divulgar por todos nós. Ou seja, escusavam de ter sorrisos cínicos e hipócritas para com o novo Procurador Geral. Assim, desejo muito sinceramente que o novo Procurador desempenhe as suas funções com rigor, eficácia, seriedade, imparcialidade, honestidade, que respeite os princípios basilares do nosso Estado de Direito Democrático, e que não permita que existam quaisquer indícios de subordinação do poder judicial ao poder político. São estes os meus votos sinceros para o novo Procurador Geral da República. No entanto, dou comigo a pensar num pequeno problema relacionado com esta nomeação. Assim, será que com a nomeação de um Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça algumas facções de magistrados do Ministério Público se irão conformar e ficar de braços cruzados e assistir impávidos e serenos de braços cruzados? Assim, vamos assistir a situações cíclicas de insubordinação por parte de algumas facções de magistrados do Ministério Público extremamente descontentes simplesmente pelo facto de serem liderados por um magistrado judicial. Deste modo, temo bem que o novo Procurador Geral passe bastante mais tempo do que seria aconselhável a combater as lutas internas que irão deflagrar e a arrumar a sua nova "casa" nos próximos seis anos do que a exercer as competências do Ministério Público, as quais se encontram previstas na Lei nº 47/86, de 15 de Outubro, e com as alterações introduzidas pelas Leis nºs 2/90, de 20 de Janeiro, 23/92, de 20 de Agosto, 10/94, de 5 de Maio e 60/98, de 27 de Agosto. Deste modo, espero, e muito sinceramente para o bem de todos nós, estar redondamente enganado e que o mandato do novo Procurador seja exercido sem quaisquer sobressaltos de maior. Caso contrário, nem quero imaginar as repercussões de um novo mandato tão ou mais atribulado que o do anterior Procurador. Suponho, e esta é apenas a minha humilde opinião, que a verificar-se uma nova situação destas seria o tão já anunciado golpe de morte no nosso já moribundo e débil sistema judicial. Pelo que, e para o bem de todos nós, espero estar enganado. Porém, só o futuro o dirá...

4 Comments:

At 09:20, Blogger Rafeiro Perfumado said...

Na minha modesta opinião, a coisa surge torta logo à nascença. Quando os dois maiores partidos portugueses não conseguem entender-se sobre o que deveria uma coisa simples, isto é, a escolha de alguém integro, competente, isento e descomprometido politicamente, é sinal que algo vai muito mal neste país. Mas também, tirando eu e mais uma mão cheia de pessoas, haverá alguém assim em Portugal? E eu sei que não fui convidado!

 
At 09:38, Blogger Sandra Figueiras said...

O que se pode dizer, a mim parece-me que este país em vez de andar para a frente anda mas é para trás. Não consegui preceber o porquê de no pacto entre os 2 maiores partidos em relação às questões da Justiça não foi acordado nada em relação à corrupção económica (ou se calhar precebo não quero é acreditar que seja essa a razão)
Boas férias e boas leituras.

 
At 10:04, Blogger Pedro said...

Caro Rafeiro,

Bons olhos te vejam! LoL. Entretanto, e quanto à nomeação do PGR, a pseudo-tentativa de acordo entre o PS e o PSD quanto à tentativa de escolha do próximo PGR, não foi mais do que ums situação ridícula e demonstrativa da situação política portuguesa, ou seja, uma tentativa de o condicionar ad initio. Como é que o PSD poderá ter pretensões quanto ao processo de escolha do PGR quando este é nomeado pelo Presidente da República, sob proposta do Governo (Artigo 133m) CRP), não se fazendo qualquer menção a qualquer outra forma de nomeação ou quanto ao processo de escolha. Por mim, até pode ser por papelinho tirado de um chápeu... LoL!
Entretanto, e como não te candidataste à vaga, enviado o teu CV para o Primeiro Ministro, não foste considerado. Agora não te queixes... LoL!!!!!!

 
At 15:01, Blogger Pedro said...

Sandra,

O nosso país é como o carangueijo, dá um passo à frente e dois atrás. É por isso que estamos como estamos, e quando alguém quer fazer algo do nosso país, é logo enxovalhado pelo estatus quo existente.
Ora, o motivo pelo qual nada foi acordado em relação a esse assunto foi porque existem muitos interesses que impedem que se faça algo. Senão, vejamos. Existem inúmeros inquéritos dirigidos pelo Ministério Público que estão relacionado com este tema e que estão na prateleira porque existem ordens superiores nesse sentido. E ainda nos perguntamos porque é que o nosso país não anda para a frente??? Satisfeita a curiosidade??

 

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