quinta-feira, 24 de maio de 2007

Os Velhos do Restelo da actualidade

Na obra épica de Luís Vaz de Camões, enquanto é descrito o momento da partida das naus comandadas por Vasco da Gama para a Índia da Torre de Belém, surge uma personagem a vociferar, a criticar e a dizer mal de tal epopeia. É o Velho do Restelo.

Pois bem, e por mais que tentemos negar, todos nós temos o Velho do Restelo em nós, sendo que alguns o têm em quantidades largamente superiores do que outros. De qualquer modo, é-nos imanente e indissociável da nossa condição de Portugueses termos e vivermos com esta personagem.

Aliás, desde sempre, embora com especial incidência no presente, é normal e habitual ver e ouvir pessoas criticarem tudo o que é feito e dito no nosso país, algumas vezes com razão e na esmagadora maioria das vezes sem qualquer razão, e sem apresentarem soluções.

Vejamos o exemplo da construção do novo aeroporto de Lisboa. Há cerca de 40 anos que se ouve falar na necessidade de uma nova instalação aeroportuária, porque a actual vai esgotar a sua capacidade a médio prazo e por razões de segurança.

Todavia, não me custa a crer que seja porque há necessidade de dar empregos a filhos, sobrinhos, enteados, há que ganhar dinheiro com os terrenos, seja com os da Portela seja com os da Ota, assim como com os inúmeros estudos, e por último pensar no interesse no País.

Toda a gente reclama, porém alguém há-de ter razão. Esperamos nós, se não algo vai mal no nosso reino...

Vejo criticar o facto das empresas estrangeiras serem criticadas por deslocalizarem as suas fábricas e outras instalações para outros países onde os custos sejam mais baixos. Só que estes custos não são apenas monetários ou financeiros, mas também de outra ordem. Por exemplo, o custo em termos mão-de-obra pouco qualificada (a mais qualificada vai-se embora), o facto dos serviços prestados pelo Estado (por exemplo, a justiça) serem de muito pouca qualidade, a função pública (salvo honrosas excepções) pretender apenas um emprego para a vida e não um trabalho.

Assim, e caso as empresas estrangeiras referissem estes problemas, eu sentir-me-ia (e sinto) extremamente envergonhado pelo facto do meu País ser assim.

De qualquer modo, e se cada um cumprisse o seu papel e trabalhasse, o nosso País seria mais desenvolvido, não só em infra-estruturas, mas também nas mentalidades

Mas, e para não ser acusado de ser um Velho do Restelo, existem aspectos e exemplos que vale a pena louvar. Seja a internacionalização da EDP nos Estados Unidos, seja o exemplo de relação entre a administração da Autoeuropa e os seus trabalhadores, o facto de inúmeras compatriotas darem cartas no estrangeiro nas mais diversas áreas, seja a medicina, desporto, artes, entre outras...

É por isso que devemos sempre criticar, e com cada vez mais insistência, mas, e ao contrário do Velho do Restelo, apresentar sempre soluções para melhorar o que está mal e louvar o que é bom.

A propósito disso, aconselho vivamente a leitura deste texto.

2 Comments:

At 15:38, Anonymous Anónimo said...

Concordo quando dizes que não basta criticar, que também é necessário apresentar soluções. E há quem as tenha, mas os destinatários torcem sempre o nariz numa atitude, por vezes, arrogante, de teimosia e preferem fazer como bem entendem.

Convém, ainda, não esquecer que vivemos em Portugal, um país onde a larga maioria das pessoas é avessa à mudança e à evolução, como se os seus pequenos e perfeitos mundos ruíssem se qualquer coisa fosse alterada. É triste, mas é verdade.

E estas coisas tiram a motivação a qualquer um...

Bjs

 
At 09:57, Blogger Rafeiro Perfumado said...

Eu trabalho numa grande multinacional, com mais de 100.000 empregados, presente em mais de 30 países, apesar de em Portugal sermos poucos. E acredita que não somos em nada inferiores aos outros, é tudo uma questão de cultura.

 

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