sábado, 6 de janeiro de 2007

Jornal do Incrível

Há já bastante tempo que leio diariamente o Jornal de Negócios, porém, e ontem, dia 5 de Janeiro, achei que estava a ler uma espécie de Jornal do Incrível. Senão vejamos.

Nesse diário, é noticiado que o "Governo aprova investimentos que arrancaram há três anos". Ora, e nessa notícia, é referido que, e apesar de terem sido aprovados recentemente em Conselho de Ministros os respectivos contratos de investimento, a maior parte dos investimentos já se iniciaram em 2004, estando, em consequência, já praticamente concluídos. Agora, o que me choca é o facto de se querer atrair mais e melhor investimento estrangeiro e convidar os empresários portugueses a investir cada vez mais, o Governo permite-se adoptar estes comportamentos verdadeiramente inqualificáveis e dignos de uma verdadeira "república das bananas". Como é que se pode permitir ao Primeiro Ministro e ao Ministro da Economia peçam aos investidores, sejam eles nacionais ou estrageiros, para investirem em Portugal quando, e a coberto da inevitável "red tape", se adoptam estes comportamentos ridículos (escolhi esta palavra à falta de melhor e também para ser simpático)? Como é que se pode permitir que sejam exigidos estes comportamentos activos e positivos para a economia portuguesa, dignos de uma economia avançada, e ao mesmo tempo sejam adoptados comportamentos verdadeiramente dignos de pessoas inexperientes e que não percebem nada do assunto? Poderão dizer que temos o país que mereçemos, mas podemos fazer sempre mais e melhor. Portanto, toca a trabalhar para o melhorarmos e para corrermos de lá os ridículos que por lá andam... Entretanto, recordei-me de um aspecto. Será que os empregos criados por estes investimentos já contam para o cumprimento da promessa eleitoral de criação de 150.000 empregos anunciada em plena campanha eleitoral pelo actual Primeiro Ministro? Já agora outro aspecto, aconselho vivamente a leitura do artigo "Espanha S.A." publicado hoje, dia 6 de Janeiro, no suplemento de economia do Jornal Expresso, o qual é terrivelmente esclarecedor das debilidades da nossa economia.

Outra notícia que me chamou a atenção foi o facto das "Grandes empresas irem pagar taxa de justiça a dobrar". A mim não me revolta que estas, sejam públicas ou privadas, paguem a taxa de justiça, seja ela a incial ou a subsequente, a dobrar. Agora, o que me revolta é que o Estado não adopte ou legisle no sentido de obrigar estas empresas a recorrerem a tribunais arbitrais para dirimirrem aqueles conflitos a que foi dado o nome de bagatela jurídica. Ora, estes organismos poderiam ser criados pelas próprias empresas ou através de acordos de parceria com o Estado. Paralelamente, ou eu me engano muito, não estou a ver que esta medida de pagamento da taxa de justiça a dobrar vingue, por uma simples razão. É inconstitucional! Será que o Ministério da Justiça ainda não analisou esse pequeno grande aspecto? Pelos vistos, não... Agora, só espero que o tempo não me dê razão...

Por fim, guardei o melhor para o fim. Ainda segundo este jornal o "Tribunal de Contas chumba a contabilidade do Estado em 2005". Assim, este organismo, actualmente presidido por uma antigo Ministro das Finanças do Governo do Eng. António Guterres e professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, analisou as contas referentes ao Orçamento de Estado de 2005, tendo emitido fortes reservas sobre a execução do mesmo, e também quanto ao valor do défice. Ora, essas reservas traduziram-se na emissão de 146 (!) recomendações, as quais traduzem as fortes irregularidades detectadas, seja ao nível da receita ou da despesa, principalmente de desorçamentação, originando assim falhas graves de transparência. Ou seja, não se sabe quanto se ganha nem quanto se gasta, e mais de onde o dinheiro vem e para onde vai, e assim vamos todos cantando e rindo, de braço dado! Pelo menos assim pensa o Ministro das Finanças, ao afirmar que não existe qualquer "(...) ilegalidade nas contas de 2005". Será que ele pensa que só ele é que é o dono da razão suprema e que todos os outros não percebem nada do assunto? Pelos vistos... Agora, sempre ouvi dizer que tudo o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita... Espero que isto não suceda neste caso. Agora, vamos a ver qual será a análise do Tribunal de Contas para as contras referentes ao Orçamento de Estado de 2006, se será assim tão dura ou, se pelo contrário, será mais meiga e branda. Já agora, e como resposta ao Ministro das Finanças, o "Tribunal de Contas já avisou que pode aplicar multas às Finanças". Cá estaremos para ver se tal medida será mesmo para aplicar ou, se pelo contrário, é para ficar apenas pelas palavras.

6 Comments:

At 00:43, Blogger Bigmac said...

Gostaria de sucintamente te transmitir a minha opinião sobre este país.

Competências não abundam, inteligências moldam-se a poleiros, incompetências e burros com pedigree abundam nos poleiros, esforços sem conhecimentos financeiros e contactos profissionais são afogados pelos anteriores até constituirem base de apoio minimamente sólida.

Em vez de investir nos nacionais e produção nacional, oferecem-se incentivos à utilização de mão de obra barata por estrangeiros, neste momento dá-se o volte-face devido aos subsidios que recebemos à 20 anos não terem sido utilizados e são agora canalizados para quem tem uma estrutura muito superior ao nivel de hábitos de trabalho (ex países de leste).

Corrupção e acordos de grupos (pode-se chamar mafia à portuguesa) demorará muitos anos a ser abolida.

A minha previsão por este andar é que as coisas são ciclicas e os investimentos irão retornar a Portugal devido a uma imensa taxa de desemprego que originará baixos salários e disponibilidade para trabalhar a qualquer valor.

Solução: Emigrar, trabalhar áreas de produção única, ou rentabilizar projectos inovadores.

Foi só um desabafo... muito mais há a dizer.

Abraço,

 
At 00:53, Blogger Pedro said...

BigMac,

Concordo inteiramente com tudo o que disseste e também com tudo aquilo que optaste por não dizer.

Mas o primeiro passo, e na minha opinião, é acabar com a canalhada dos chupistas que vivem ainda refastelados à conta do 25 de Abril.

Quando a minha geração ocupar o poder, pode ser que tenhamos mudanças verdadeiramente positivas e palpáveis no nosso país...

Peço desculpa pela linguagem, mas é como me sinto relativamente a este assunto.

Abraços,

 
At 11:01, Blogger Joana said...

Olaré!
Quanto à primeira notícia, só prova que este Governo é muuuito à frente... :)

Já no que toca à 2ª, parece que a questão da inconstitucionalidade está a ficar na moda. Não viste a notícia que saíu no Público a semana passada segundo a qual o Governo tinha intenção de cobrar impostos retoactivamente? Mas não, não é inconstitucional, porque "diz que a alteração tem natureza interpretativa". Whatever...

A 3ª já é mais complexa... Se bem que este Governo anda metido em várias trapalhadas, neste caso penso que o Tribunal de Contas não andou bem, e isto porque a questão explica-se facilmente com a diferença entre contabilidade pública e nacional, que tu saberás explicar melhor do que eu. Também é preciso ver que o Dr. Guilherme Oliveira Martins tem de calar as críticas que surgiram com a sua nomeação para o Tribunal de Contas...
Beijinhos

 
At 12:05, Blogger Pedro said...

Joana,

O problema é que este Governo é muito à frente para poucas coisas e muito atrás para as restantes...

E se vamos ter mais dois anos desta trapalhada, mais vale cortamos os pulsos num suicídio colectivo...

Agora, e quanto à 3ª notícia do incrível, a diferença entre a contabilidade pública e nacional não justifica tudo. Agora, o Tribunal de Contas não pode ter as costas largas para apanhar com as culpas todas, é bom que o Governo se deixe de manobras de diversão e assuma que está lá para trabalhar e para fazer cumprir a lei, doa a quem doer, e não andar para trás como o carangueijo, em certas situaçãoes.

Beijinhos

 
At 17:34, Blogger Joana said...

Eh pá, suicídio colectivo é um pouco radical... Acho que prefiro emigrar :)

 
At 18:04, Blogger Pedro said...

Joaninha,

É claro que o suicídio colectivo é um pouco radical de mais, mas podemos todos transferirmo-nos todos para Madrid e deixar este cantinho à beira mar plantado para estes chupistas, e assim viamos o que é que conseguiam fazer sem nós...

bjs

 

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